sábado, 26 de dezembro de 2009

FERNANDO PESSOA

Um dia a maioria de nós irá separar-se.

Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos fins de semana, dos fins de ano, enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe...
nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo....

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
"Quem são aquelas pessoas?"
Diremos que eram nossos amigos e isso vai doer tanto!
"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!"
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrimas abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo:
não deixes que a vida passe em branco,
e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria
se morressem todos os meus amigos!"

PRATO DECORADO EM TONS OUTONAIS


Mais um presente Natalício da minha amiga Antónia...

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

FERNANDO PESSOA

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

domingo, 20 de dezembro de 2009

MOLDURA DOS ANJINHOS DOURADOS




Moldura dos anjinhos dourados: um presente que a minha amiga Antónia vai oferecer este Natal.

TENTEI FUGIR DA MANCHA MAIS ESCURA

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

CAIXA DE CHÁ AZUL

Foi um miminho para a enfermeira Rosário que me apoiou muito quando estive no Hospital. A ajuda dela em momentos em que estava tão vulnerável e ansiosa fez toda a diferença! Bem haja!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MORRE LENTAMENTE QUEM NÃO VIAJA

Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,

Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante,

Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!

domingo, 22 de novembro de 2009

MARIA INÊS



terça-feira, 17 de novembro de 2009

QUADRAS POPULARES - ANTÓNIO ALEIXO

Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.

Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são

maiores querem parecer.

Para não fazeres ofensas
e teres dias felizes,
não digas tudo o que pensas,
mas pensa tudo o que dizes.



Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não ser.

Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CAIXA DE CHÁ VERDE/CINZA/PRATA


"Les Thés d'Emmanuelle" - uma oferta de Natal personalizada

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Eternamente tu

O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão
O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção
Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós
Meu amor, o tempo somos nós

O espaço tem o volume da imaginação
Além do nosso horizonte existe outra dimensão
O espaço foi construído sem princípio nem fim
Meu amor, huuum, tu cabes dentro de mim

O meu tesouro és tu
Eternamente tu
Não há passos divergentes para quem se quer
Encontrar

A nossa história começa na total escuridão
Onde o mistério ultrapassa a nossa compreensão
A nossa história é o esforço para alcançar a luz
Meu amor, o impossível seduz

O meu tesouro és tu
Eternamente tu
Não há passos divergentes para quem se quer
Encontrar

O meu tesouro és tu
Eternamente tu
Eternamente tu

terça-feira, 10 de novembro de 2009


Mais uma caixinha para a minha amiga Isabel dar como presente de Natal!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

PRECISÃO - CLARICE LISPECTOR


O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

CAIXA DE CHÁ VIOLETA E PRATEADO


Esta já foi para a minha amiga Isabel!
Bons chás!

INTIMIDADE - JOSÉ SARAMAGO

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

domingo, 11 de outubro de 2009

POENTE EM VERMELHOS


sábado, 10 de outubro de 2009

MAHATMA GANDHI


Ensaia um sorriso e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor e fá-lo conhecer ao Mundo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

BAÚ


domingo, 4 de outubro de 2009

ODE À AMIZADE


Sou de um amor diferente
Dócil escravo, fácil presa
Um sentimento consciente
De muito valor e nobreza

Não permite preconceitos
Não envolve distinções
Mulheres e homens aceitos
Defeitos, virtudes, razões

Do ancião à criança
Há nesta forma de amar
Muita lição e esperança
De o mundo melhorar

Tem este amor a decência
De acatar, com harmonia
O prazer da convivência
No pesar e na alegria

Como exprimir tal amor
Não ser, nos versos, prolixo,
Sintetizar tanto apreço
Como Deus no crucifixo?

Ser, lacônico, entretanto
Sem desprezar a beleza
Sem ferir tanto encanto
Sem perder tal riqueza?

Este poder, já vos digo,
Que tem tal dignidade
É a bênção do amigo
O amor da amizade!

BABY GIRL NA LUA


Acrílico com lombada larga

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

FERNANDO PESSOA

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se
- Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E quando haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...

Travessa em vermelho/dourado/violeta


domingo, 27 de setembro de 2009

O AMIGO APRENDIZ - FERNANDO PESSOA


Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida
e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade.
Sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo,

mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

GIRASSOL EM VIOLETA









Acrílico - 35X47

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

POEMA DA PAZ - MADRE TERESA DE CALCUTÁ


O dia mais belo? Hoje.
A coisa mais fácil? Equivocar-se.
O obstáculo maior? O medo.
O erro maior? Abandonar.

A raiz de todos os males? O egoísmo.
A distracção mais bela? O trabalho.
A pior derrota? O desalento.
Os melhores professores? As crianças.

A primeira necessidade? Comunicar.
O que mais faz feliz? Ser útil aos demais.
O mistério maior? A morte.
O pior defeito? O mau humor.

A pessoa mais perigosa? A mentirosa.
O sentimento pior? O rancor.
O presente mais belo? O perdão.
O mais imprescindível? O lar.

A estrada mais rápida? O caminho correcto.
A sensação mais grata? A paz interior.
O resguardo mais eficaz? O sorriso.
O melhor remédio? O optimismo.

A maior satisfação? O dever cumprido.
A força mais potente do mundo? A fé.
As pessoas mais necessárias? Os pais.
A coisa mais bela de todas? O amor.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

FLOR DESFOLHADA EM VERMELHO





"A arte não reproduz o visível, mas torna-o visível" - Paul Klee
Esta flor desfolhada está agora na sala da Isabelinha. Custou dizer-lhe adeus...

SONETO DO AMOR E DA MORTE



quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

OS MEANDROS DO SONHO


Foi uma tela pintada ao correr do pincel, guiada pelas cores e por pinceladas que iam ganhando o seu próprio ritmo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

SONETO DE FIDELIDADE



De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O SOL DERRAMADO EM OCRE






Este interior reflete o sol em várias superfícies:


um interior nu onde apenas uma esfera vive!


terça-feira, 14 de julho de 2009

COM FÚRIA E RAIVA



Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

domingo, 12 de julho de 2009

JARRO-CORAÇÃO GIGANTE



Quando comecei a pintar esta flor gigante uma colega minha (que também pinta) apaixonou-se por ela. Encomendou-ma logo. Foi um prazer ver que o resultado final superou as expectativas dela e minhas. E está na cabeceira da sua cama, onde fica lindamente! Gosto de alegrar a casa dos outros e saber que criei algo que alguém aprecia tanto!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

SONETO - LUIS DE CAMÕES



Vós, que de olhos suaves e serenos,
Com justa causa a vida cativais,
E que os outros cuidados condenais
Por indevidos, baixos e pequenos;


Se ainda do Amor domésticos venenos
Nunca provastes, quero que saibais
Que é tanto mais o amor depois que amais,
Quanto são mais as causas de ser menos.


E não cuide ninguém que algum defeito,
Quando na cousa amada se apresenta,
Possa diminuir o amor perfeito;


Antes o dobra mais; e se atormenta,
Pouco e pouco o desculpa o brando peito:
Que Amor com seus contrários se acrescenta.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

GIRASSOL ALUCINADO






Já não está comigo, está em casa duma amiga, a nova dona. Sei que gosta muito dele e o trata com muito carinho.

Custou-me muito separar-me dele: ele costumava estar de frente para a minha cama. Era ele que eu via antes de dormir e, mal abria os olhos, lá estava ele. Era e continua a ser a minha flor favorita (nestas cores alucinadas)!

ESPERANÇA-MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só
esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de
pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.

terça-feira, 9 de junho de 2009

MENINA NO CAMPO








Quadro a acrílico

30x30



segunda-feira, 8 de junho de 2009

QUADRAS POPULARES - ANTÓNIO ALEIXO



Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
querer um mundo novo a sério.

Contigo em contradição
pode estar um grande amigo;
duvida mais dos que estão
sempre de acordo contigo.

Sei que pareço um ladrão ...
Mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.

Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.

Ser artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista,
ver as coisas mais além
do que alcança a nossa vista !


sexta-feira, 5 de junho de 2009

MENINA


Quadro a acrílico
25x30

terça-feira, 2 de junho de 2009

AMOSTRA SEM VALOR - ANTÓNIO GEDEÃO

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

PALHACINHO VERDE E LILÁS














Quadro a acrílico

25x30

ADEUS - EUGÉNIO DE ANDRADE

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.


Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.


Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.


Adeus.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

PALHACINHO AZUL













Quadro a acrílico

25x30







O QUE DIZ MOLERO - DINIZ MACHADO



Estou sentado à beira-mar, olhando o mar sem o ver. Voa no meu pensamento a dança e a contradança de lembrar e de esquecer. Não sei se vou lembrar. Não sei se vou esquecer. E enquanto sei e não sei, estou sentado à beira-mar, olhando o mar sem o ver. Na tal dança-contradança de pensar e não pensar, pressinto que vou sentir lágrimas no meu olhar. E enquanto sinto e não sinto, atiro pedras ao mar.

terça-feira, 26 de maio de 2009

FUNDO DE MAR




Quadro a acrílico


30x40


domingo, 24 de maio de 2009

MADRE TERESA DE CALCUTÁ



Tem sempre presente que a pele se enruga, o cabelo embranquece, os dias convertem-se em anos...
Mas o que é mais importante não muda;
A tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha.



Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.



Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas...
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não conseguires correr através dos anos,
Trota
Quando não consigas trotar, caminha.
Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!!!.




FUNDO DE MAR






Quadro a acrílico

30X40












sexta-feira, 22 de maio de 2009

E POR VEZES - DAVID MOURÃO FERREIRA



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos

quinta-feira, 21 de maio de 2009

FUNDO DE MAR



Quadro a acrílico


30x40


quarta-feira, 20 de maio de 2009

LIBERDADE - FERNANDO PESSOA

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal
Como tem tempo, não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.


Quanto melhor é quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


E mais do que isto

É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

terça-feira, 19 de maio de 2009

FUNDO DE MAR À MINHA MANEIRA





Quadro a acrílico



Lombada larga


50X50




CÂNTICO NEGRO - JOSÉ RÉGIO

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

FUNDO DE MAR DE FAZ DE CONTA





Quadro a acrílico

50X50

Lombada larga








IF - RUDYARD KIPLING


IF you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:


If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:


If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breathe a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: 'Hold on!'

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with Kings - nor lose the common touch,
if neither foes nor loving friends can hurt you,
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man, my son!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

PORMENOR DE BARCO



Quadro a óleo


73x100




PORQUE-SOPHIA MELLO BREYNER ANDRESEN




Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

PORMENOR DE BARCO



Quadro a óleo


73x100

SOB A PELE - DAVID MOURÃO FERREIRA




Por que há-de sob a pele o sangue amotinar-se
Quando apenas a pele havemos convocado
Mas quanto mais a pele a vemos sem disfarce
Mais sob a pele apela o sangue amotinado.

Quem nos faz de repente esta rampa temer
Da cópula de um dia à cúpula do dia
Por que há-de sob o sangue a alma estremecer
Se decretámos nós que ela não existia.



sábado, 16 de maio de 2009

BARCOS ANCORADOS




Quadro a óleo


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A VIDA - CLARICE LISPECTOR


“Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei as mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir as minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites a chorar até adormecer, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer desaparecer.
Já menti e me arrependi depois, já disse a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta no meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já parti pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muito a falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de dizer o que penso para agradar a uns, outras vezes disse o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar a uns, já fingi ser o que não sou para desagradar a outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já caí inúmeras vezes e achei que não me iria reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar a quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar quem eu amava.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...

Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, porque eu vou seguir o meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.

Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Até me podem empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E então? EU ADORO VOAR!”



sexta-feira, 15 de maio de 2009

CARACOL EM FOLHA




Quadro a óleo


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DA CONDIÇÃO HUMANA-J.C. ARY DOS SANTOS




Todos sofremos.
O mesmo ferro oculto
Nos rasga e nos estilhaça a carne exposta.
O mesmo sal nos queima os olhos vivos.

Em todos dorme
A humanidade que nos foi imposta.
Onde nos encontramos, divergimos.
É por sermos iguais que nos esquecemos
Que foi do mesmo sangue,
Que foi do mesmo ventre que surgimos.


FERRO A CARVÃO E ABÓBORA



Quadro a óleo

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

SEM TÍTULO - JOSÉ GOMES FERREIRA




Se a terra ao menos guardasse todos os corações dos mortos
e os fosse juntando ao centro do mundo
para baterem um dia ao mesmo tempo
numa catástrofe de ternura!

Mas não.
Nem já a morte
tem imaginação.






CABAÇA COM ESPIGA DE MILHO








Quadro a óleo

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TUDO É SONHAR - FERNANDO PESSOA



Tudo é sonhar
dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Dissessem.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Por quê
esperar?
Tudo é
sonhar.

FRUTO PROIBIDO






Quadros a óleo


30x40





quarta-feira, 13 de maio de 2009

ODE - RICARDO REIS



Para ser grande: sê inteiro.
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
brilha porque alta vive.


STAIRWAY TO HEAVEN








Quadro a óleo


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É URGENTE - EUGÉNIO DE ANDRADE


É urgente o Amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente
permanecer.